Manuel Amigo: «Podem decidir usar a colónia galega para a produçao de energia, sacrificando terras cultiváveis e comunitárias»

No breve espazo desta entrevista realizada para o Partido da Terra, no que tamén milita, o noso compañeiro Manuel Amigo, pon sobre a mesa unha chea de aspectos trascendentais da situación actual e os explica coa súa habitual claridade e contundencia. Unha entrevista imprescindible!

Manuel AmigoPartido da Terra: Entraste em contato com o Partido da Terra através do teu trabalho sobre os combustíveis fósseis na Associação Véspera de Nada. Como vês o futuro energético da Galiza?

Manuel Amigo: Tendo em conta que a nossa dependência de combustíveis líquidos do exterior e total e absoluta e que apenas geramos a metade da energia elétrica que consumimos, o futuro energético da Galiza não deferirá muito do da Espanha. Aproximam-se imensas carências neste sentido. Talvez esteja mais preocupado pola hipótese de que os poderes fáticos decidam usar a colónia galega para a produção de energia para o seu abastecimento, como já foi feito no passado, sacrificando terras cultiváveis e comunitárias para a produção de biomassa florestal. Por isso, preocupa-me muito a nova lei de montes que atribui facilidades às empresas para implementar um sistema de produção de madeira de baixa qualidade com espécies alóctones modificadas geneticamente e muito espoliadoras do solo e da água. Considero que deveríamos de optar polo contrário: uma redução brutal do consumo energético baseado na valorização do rural, recuperando o bosque autóctone, colocando em prática a permacultura e fomentado a autossuficiência energética e alimentar.

PT: És responsável por transformar uma oficina de reparação de automóveis convencional numa empresa pioneira em adatação de veículos para funcionar com óleos. Como inicias este projeto e qual a sua necessidade?

MA: Este projeto foi uma verdadeira escola de sustentabilidade. Começou quando ainda não conhecida a iminência do problema energético. Num princípio pretendia fazer biodiésel com óleos usados, mas estudando a questão percebi que os azeites são de por si combustíveis e que, modificá-los desse jeito apenas serviria para aumentar os custos e a poluição com químicos perigosos. Informei-me sobre as condições necessárias para fazer funcionar um motor com azeite e modifiquei o meu carro de forma totalmente artesanal. E funciona! Fui publicando numa web o processo e os resultados. Por meio desta web fui contatado polo que viria a ser o meu sócio catalão, Sergi Iglesias, e começamos com o projeto de comercializar na Espanha de jeito legal tanto azeite para combustível como kits de modificação. Para dar a conhecer o tema organizamos vários atos públicos e assim entrei também em contato com Véspera de nada, tornando-me consciente do imenso erro que seria utilizar óleos de qualquer jeito distinto à autoprodução e para cousas imprescindíveis como a maquinaria agrícola ou transportes.

O resto é a história de um fracasso comercial e empresarial, mas uma experiência que nos abriu os olhos em relação à insustentabilidade do atual sistema e a pouca vontade que as instituições ou empresas tem de mudá-lo. Mas a bagagem de conhecimentos está aí para ser aplicada quando as circunstâncias derivem irremediavelmente para essa opção.

PT: Tens um horto dedicado à permacultura. Quais as vantagens deste sistema frente a outras formas de agricultura tradicional?

MA: Devo dizer em primeiro lugar que como a imensa maioria das galegas nasci numa casa de lavradores e na minha casa sempre tivemos a típica horta na parte de atrás da oficina mecânica que vem sendo uma metáfora do futuro que precisamos. Para ir à horta há que passar por uma porta com o típico letreiro industrial “Saída de Emergência”. Andas por uma nave cheia de aparelhos industriais e ao ultrapassar a Saída de Emergência das de frente com a horta, as estufas, os frutais, as galinhas, …

Faz três anos acabei por perceber que dada a absoluta dependência energética da agricultura industrial era bem provável que esta não fosse quem de sustentar a população. Por isso, comecei a procurar informação sobre métodos de produzir alimentos de jeito sustentável. Descobri a Fukuoka, li tudo o que achei e iniciei a experimentação em agricultura natural num ferrado de meu avô que levava vinte anos a monte. Lá trabalhei os sábados de tarde, limpei-o e aproveitei vários carvalhos e sabugueiros que nasceram de forma natural. Após alguns fracassos e novas pesquisas descobri a Emilia Hazelip, que me forneceu ideias para levar adiante agricultura natural no nosso particular âmbito climático, e a Sepp Holzer, que já foi o detonante para tentar fazer um bosque de alimentos que é no que estou. A dia de hoje já levo algumas colheitas e continuo fazendo experimentos que em função dos resultados e tal e como vão evolucionar as cousas implementarei a maior escala em fincas da família. Por enquanto é apenas um laboratório para continuar com o estudo com as plantas perenes comestíveis.

Essa é a linha que mais me interessa: sacar a máxima produção possível e cultivar usando os mínimos aportes energéticos, sem lavrar, sem tirar ervas, sem fumegar e mesmo sem regar, colocando por exemplo camas hugelkultur. A dia de hoje nesse ferradinho há desde cultivo de cogumelos até castinheiros no meio de mais de 50 espécies diferentes. O maior inconveniente dos bosques de alimentos é o tempo que demora ver resultados plenos, mas há um beneficio imediato, físico e mental, ao trabalhar num projeto sustentado na terra.

PT: Também estás tentando colocar em andamento um projeto de moeda social em Santa Comba e na comarca. Como vai a cousa e de onde saiu a ideia?

MA: Todo o mundo sabe que esta crise energética que estamos a viver foi o detonante da crise financeira que padecemos. Não está muito claro se é uma crise real ou se esta foi induzida polos estados para ajustar o consumo energético condenando à miséria ao povo, mas o feito é que imos em direção à miséria ao usar uma moeda que canaliza a riqueza cara os que detêm o poder.

Quando era cativo todo o mundo era muito mais pobre do que hoje. Ainda assim lembro as feiras do meu povo com milhares de pessoas que compravam e vendiam gado ou produtos da terra. E não falo metaforicamente: milhares, e as feiras duravam o dia todo e mesmo abriam os cinemas e as salas de baile, e a taverna de meu avô e as outras trabalhavam até a madrugada. Hoje somos em teoria mais ricos mas desde os tempos de meu avô não fizemos mais do que perder riqueza. Olho! Não e o mesmo quartos que riqueza e comecei a pensar qual poderia ser a diferença entre a época de meu avô e a nossa.

Daquela, quando os lavradores vinham à feira, vendiam as favas que meu avô comprava e com os quartos das favas comiam no povo, mercavam talvez uns socos que fabricava o sapateiro daqui ou algum foucinho que fazia algum dos ferreiros, ou fruta que cultivavam outras lavregas. Também compravam roupa que vendiam comerciantes daqui mas que vinham de fora e meu avô vendia as favas a um de fora e o gado também ia para fora polo que entravam dinheiros na vila.

Hoje as feiras são mercadillos: não há mercado de gado, o paisano que cobra um salário entrega 40% ao Estado em cotizações e impostos e o resto gasta-o num supermercado que compra os produtos a explorações que estão a milhares de quilómetros e a margem de benefício vai para outros lugares. Para comprar roupa vão até as cidades consumindo combustíveis fósseis, dos que uma parte vai para outros países e a outra para o Estado como impostos. Mercam roupa em multinacionais exploradoras de seres humanos, que apenas recebem nada, em países emergentes e o grosso da margem de beneficio vai diretamente a paraísos fiscais para maior glória das pessoas mais ricas do mundo. Aqui só fica trabalho assalariado desumanizador e poluição.

O uso da moeda oficial só canaliza o fluxo de riqueza cara quen imprime essa moeda. Então, se queremos que a riqueza fique entre nós, temos que implementar uma moeda local que faça com que 80% da riqueza que se perde com a moeda oficial fique aqui, e nisso estamos.

PT: O Partido da Terra adotou um primeiro documento político para uma Galiza sem petróleo com base nas propostas de Véspera de nada. Qual pensas que é o caminho para que estas ideias tenham maior aceitação e em que medida podemos os indivíduos e as pequenas comunidades mobilizar-nos para a sua consecução?

MA: É bem difícil que as propostas de Véspera de nada tenham plena aceitação pois ninguém que não seja verdadeiramente consciente do problema aceitará ter que mudar o seu modo de vida por outro que, para além de considerar-se um atraso, choca frontalmente com o modo de vida que todos temos assimilado.

Penso que o ideal seria que algumas pessoas fossem adquirindo consciência do problema e fossem colocando em prática as recomendações que fazemos de jeito individual, familiar ou na sua comunidade, confiando em que o exemplo dessas pessoas possa permear outras que ainda não são conscientes do problema. Deste jeito, mesmo que a crise leve a situações sem retorno, haverá referentes, esperança, provas de que há outros jeitos de viver.

Seria bom que organizações como o Partido da Terra fizeram o possível por conseguir algo básico e relativamente simples: que a gente tome consciência de que temos um grave problema. Conseguido isto, penso que hão surgir todo tipo de inciativas por parte da gente nesta mesma direção: agricultura ecológica, permacultura, agricultura e gadaria holística, bioconstrução, energias alternativas, processado de alimentos, etc. Um novo mundo sustentável e mais humano pode sair disto, mesmo havendo grupos muito poderosos que pretendem ocultar e gerir este problema conforme os seus interesses, cousa que deve ser denunciada e evitada.

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