Carpintaria de ribeira: o abandono de saberes milenários

logo-novas-da-galiza(Reproducimos con permiso artigo aparecido no nº 121 do Novas da Galiza. Con el inauguramos unha nova categoría de artigos nos que daremos a coñecer procesos que están a atrancar a viabilidade dunha Galiza pospetróleo.)

A.L./ A relaçom de Galiza com a construçom de navios perde-se na noite dos tempos. A mar foi para este Finisterre também umha autoestrada que comunicou o nosso país com outras naçons atlánticas e mediterráneas. Petróglifos da Idade do Bronze como o de Água dos Cebros, no Baixo Minho, dam constáncia desses contactos marítimos. No Atlántico a construçom de buques foi conservada durante séculos com os mesmos elementos: quilha, quadernas e forro. Nos países de tradiçom celta, realizava-se em primeiro lugar a estrutura que conformam a quilha e as quadernas para a continuaçom pôr o forro ao seu redor. Ate há poucos anos, os mestres carpinteiros dos estaleiros que agromavam, e que agora estám quase em ruínas, na costa galega continuavam a empregar esses elementos estruturais na mesma ordem.

Quem veja a dia de hoje algum dos estaleiros abandonados situados em diversos lugares da nossa costa pensará que estar a contemplar o esqueleto de umha construçom pretérita. Um corpo de madeira que já nom produz e que cada vez vai acusando mais o passo do tempo. No recinto talvez pode haver algumha gamela que ficara a meio fazer, dando a imagem de que as pessoas que ali trabalharam marcharam a correr deixando-o todo atrás, como ante a ameaça de um ‘tsunami’. Mas essas instalaçons nunca fôrom esqueletos nem as pessoas que ali faziam a sua vida desaparecêrom na noite dos tempos: a chegada de novos materiais e a falta de interesse das administraçons em manter estas fábricas onde a madeira era a protagonista obrigou os artesáns a abandonarem este ofício.

Os mestres carpinteiros que proliferárom na costa galega durante o século XX em mui poucas ocasions contavam com umha formaçom regrada. O ofício de carpinteiro de ribeira aprendia-se de jovem nos estaleiros, manchando-se de serrim, escuitando os golpes das maças e com o cheiro a breu arrodeando o ambiente. As técnicas passavam entre familiares ou entre vizinhos. Em ocasions, os moços que estavam de aprendizes numha carpintaria de ribeira quando rematavam este período da sua vida passavam a edificar os seus próprios estaleiros. Às vezes, os aprendizes nom eram apenas os moços da zona, mas também engenheiros que se achegavam até estes prédios ao pé da mar para conhecer as artes tradicionais da construçom naval em madeira.

Os estaleiros nom estám onde estám por casualidade. O engenherio naval e catedrático Jose Mª de Juan-Garcia Aguado na sua obra Carpintería de ribeira en Galicia (1940-2000) expom que “o estaleiro situava-se num lugar protegido de ventos, bem comunicado e com profundidade de água suficiente para facilitar o lançamento à água ou botadura dos barcos com segurança, próximo a um entorno geográfico que garantisse o fornecimento de matérias primas, o que implicava a proximidade de bosques com espécies adequadas, e onde existisse umha demanda potencial de construçons nas imediaçons”. O entorno da carpintaria de ribeira é fundamental para a labor do estaleiro, e o estaleiro também é fundamental para o seu entorno ao materializar o aproveitamento dos seus recursos naturais.

A seleçom da madeira necessária também estava baseada num conjunto de saberes que se fraguárom no passo do tempo. Assim, se o carpinteiro acudia ao monte a recolher madeira deveria ter em conta a forma dos troncos, sendo segundo a sua curvatura mais ajeitada para umha funçom ou outra, e mesmo a época do ano e as fases da lua para encontrar a época em que os vasos das árvores contassem com menos jugo e, portanto, fossem menos proclives ao ataque dos fungos.

Declive

Numha palestra com motivo de umhas jornadas sobre património marítimo em Bueu em 2011, o historiador Dionísio Pereira, que colaborara no 2006 na elaboraçom de um relatório sobre a situaçom das carpintarias de ribeira, expujo a evoluçom destas instalaçons desde os anos 90 e o seu progressivo declive. Assim, em 1995 estavam em funcionamento 71 estaleiros de construçom naval e haveria umhas 445 pessoas que trabalhavam de jeito direto e de carácter fixo neste setor. Estes dados indicariam que a Galiza era o lugar da Europa onde mais carpintarias deste tipo havia e onde mais gente trabalhava. “Mas ninguem lho dixo à sociedade”, salientava Pereira.

Em 2006 já apenas restavam 26 carpintarias de ribeira e apenas 12 faziam novas construçons, contando-se no setor uns 151 trabalhadores. Nos anos seguintes acelera-se a competência com produtos do exterior e inicia-se o atual ocaso económico. É por estas datas, segundo indicava Pereira, quando também se eliminavam as ajudas públicas às embarcaçons tradicionais. Na atualidade, praticamente nom se constroem novas embarcaçons e as poucas carpintarias que sobrevivem reduzem a sua atividade a trabalhos de reabilitaçom.

Som múltiplos os motivos que provocam o declive da carpintaria de ribeira e que em boa parte vai vencelhada também ao ocaso da pesca artesanal. Em meados dos 80 vam-se introduzindo barcas de materiais novos, como fibra de vidro, poliéster ou aceiro, que vam contar com apoio estatal e autonómico. Continuavam a passar os anos e nom se amossava nengum interesse por parte da Administraçom em modernizar o setor da construçom naval em madeira. A isto também se poderia somar a falta de umha política florestal ajeitada para este tipo de atividade, o que provocou um aumento da importaçom e dos custos.

Futuro

Mas, contodo, ainda há vozes que sinalam o caminho para umha modernizaçom deste setor e salientam as múltiplas possibilidades que a construçom naval em madeira pode ter por diante. Nos último anos nasceu a Associaçom Galega de Carpinteiros de Ribeira (Agalcari) quem está a pular, entre outras inicativas, ante as administraçons polo reconhecimento de umha denominaçom de origem para as embarcaçons tradicionais galegas. Também tenhem sido apontadas algumhas estratégias de futuro para o setor, como poderia ser a sua renovaçom tecnológica ou a valorizaçom das qualidades ambientais deste tipo de construçom.

De todos os modos, o que sim fica patente é que a cultura marítima está quase desaparecida do imaginário coletivo galego. A olhada de muitos antropólogos e historiadores galegos estivo habitualmente posta no rural, esquecendo os milheiros e milheiros de quilómetros de litoral em que a vida da populaçom tinha de se desenvolver ao pé da, por vezes furiosa, mar. Talvez seja labor da geraçom atual voltar encher de vida os velhos estaleiros, antes de que todos os saberes e todas as tradiçons fiquem num lugar do que já nom seja possível voltar.

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