(Comentário de atualidade do nosso companheiro Marcos Celeiro com o galho do recente apagão maciço dos Países Baixos. Poucos dias depois teria lugar outro na Turquia, afectando 70 milhões de pessoas.)
Os efeitos do Peak Oil já estão aqui. Holanda sofre os primeiros cortes elétricos massivos, produzidos por um colapso da sua rede elétrica ao existir um consumo elétrico tão elevado que a eletricidade incorporada na rede não consegue abastecer num nível mínimo, e faz cair todo o sistema.
O curioso é que os meios de comunicação dizem que o problema é «sobrecarga elétrica», dando a entender ao público que é um excesso de energia, quando o que há é uma grandíssima falta de energia, não vaia ser que se ponha em dúvida a grande festa consumista e crescentista do capitalismo.
Vou tentar explicar onde está o problema. Todas as redes elétricas, tanto faz se são de alta, meia ou baixa tensão, estão reguladas por diferenciais de potencial, algo assim com válvulas que cortam a rede quando existe uma diferença grande de energia entre a parte da rede a cada lado do diferencial. A nível doméstico são esses interruptores que tendes no quadro elétrico da vossa casa, e que podem «saltar» cortando o subministro por vários motivos:
- Excesso de energia do diferencial. Imaginai que cai um raio na rede de distribuição e o excesso chega à vossa casa. Como a energia «antes» do diferencial (rede da companhia elétrica) será muito maior do que a energia «depois» do diferencial (a rede doméstica) que está geralmente a 220 volts e X amperes constantes, essa diferença faz saltar o mecanismo cortando o subministro.
- Insuficiência de energia no diferencial. Imaginai que tendes um eletrodoméstico com um cabo roto e vos agarrais a ele. Como sois condutores de energia, roubais eletricidade dela, provocando de golpe uma grande queda «depois» do diferencial, na rede doméstica, em relação à entrada constante na mesma. O diferencial salta. Por isso são mecanismos de segurança, que protegem ante acidentes e corto-circuitos.
Há diferentes diferenciais com diferentes «sensibilidades» para que saltem ante maiores ou menores diferenças. Nas redes elétricas a grande escala, acontece o mesmo.
- Se cai um raio (SOBRECARGA ELÉTRICA) os diferenciais saltam nas sub-estações para evitar danos nas redes de distribuição. E o sistema têm uns automatismos para automaticamente «rearmar o sistema» cortado polo excesso elétrico dum raio conetando novamente o diferencial, e em aproximadamente 1 minuto, o subministro está restaurado. Por isso quando há tormentas, há cortes elétricos interminentes, e «a luz vai e vem».
- Se há um excesso de consumo numa parte da rede sugando quantidades enormes de eletricidade num ponto da rede (SOBRECONSUMO), com por exemplo se caem os cabos duma linha no chão e a energia se perde indo para a terra, os diferenciais também saltam, evitando assim que se perda através desse ponto toda a energia da rede, e um mecanismo automático na subestação corta todo o ramal da rede que tem esse problema, por isso se podem ver afetadas outras pessoas ainda que não tenham avarias, porque estão dentro da mesma parte controlada polo mesmo diferencial.
Mas em Holanda não é uma avaria duma linha que caiu ao chão, é um sobreconsumo no aeroporto, nos bairros de Amsterdão, nas zonas industriais do país, nos caminhos de ferro, nos portos, etc… e então caem de jeito massivo todos os diferenciais.
O sobreconsumo não seria tal se a rede tivesse mais energia, pois a mais energia, menos diferença nesses diferenciais, sendo o que normalmente acontece nas redes elétricas de distribuição, onde se uma cidade monstro consome muita energia, desvia-se energia para ela (ainda que seja cortando o subministro em áreas rurais) e aumenta-se a produção elétrica. Mas no caso de Holanda, não houve de onde desviar energia nem de onde produzir, e caiu todo o sistema. Suponho que os seus vizinhos, como Alemanha, Luxemburgo e Bélgica, desconetariam as redes com Holanda para isolar o problema e não se verem afetados, pois Holanda nessa situação passou a ser um buraco negro, um sumidoiro devorador de energia para rearmar o sistema.
Bem, isto acontece num dos países mas modernos e com maior tecnologia, mas claro, como dizemos sempre os «apocalípticos» do Peak Oil, a tecnologia não é energia, pode gerir de forma mais eficiente a energia, mas não fabricá-la da nada. Holanda, como país capitalista altamente CONSUMISTA teve hoje um grande problema, por muito que o queiram negar ou manipular, sendo só o primeiro dos muitos cortes que se aproximam. Situações similares já tinham acontecido em USA e UK, outros «paraísos» do consumo energético.
Para solucionar estes problemas há duas posibilidades:
- A idiota, que consiste no sonho capitalista de tentar aumentar a produção energética eternamente, acreditando que isso se pode fazer sem limites e obviando o que é a taxa de retorno energético e a entropia.
- A racional, que consiste em reduzir o consumo, ou seja, a decrecentista.
Unha reflexión sobre “O primeiro de muitos: cortes elétricos massivos e Peak Oil”