(Artigo de Maria Álvares previamente publicado no número 108 do Novas da Galiza, reproducido con permiso respectando a grafía orixinal.)
Entrevista Flavia Berrocal, Álvaro Garcia e Pablo Alonso. Colectivo “Horta de Sam Pedro”
Armadas de sachos e sobretodo de ganas, as pessoas que ocupárom há ano e meio umha leira do bairro compostelám de Sam Pedro transformárom umha escombreira numha ampla horta seguindo a premissa de cultivar em ecológico, com sementes galegas e de forma comunitária. Agora a horta de Sam Pedro é um espaço de referência no bairro e um símbolo contra a especulaçom.
Quanto tempo levades trabalhando na horta e como xurdiu o projeto?
Começamos em junho de 2010 a trabalhar neste espaço. A ideia xurdira um pouco antes entre três amigos, queríamos umha horta e apontamo-nos nas hortas de Belvis que cede o Concelho; mas, como nom nos tocou, começamos a procurar espaços abandonados para poder cultivar na cidade. Havia várias opçons mas escolhemos esta pola sua situaçom em pleno bairro de Sam Pedro e pola extensom. Ali conhecemos o senhor Adolfo, um vizinho que cultivava um trocinho e ele pujo-nos em contato com a dona e ao final figemos um contrato de cessom.
A parti dali, pugemos cartazes no bairro para trabalhar: havia que desentulhar e roçar, já que a horta estava a monte e tinha muitos resíduos, porque os bares ou as obras da zona a usavam como lixeira. No primeiro dia de trabalho juntamo-nos 16 pessoas e a partir de entom formamos o grupo.
Como funcionades?
De forma assemblear. Ao começo as assembleias eram bastante freqüentes porque havia que tomar muitas decissons técnicas, mas agora decidimos muito sob o terreno ou via mail. O projeto no início nom era mais que aprender a trabalhar o campo, algo no que muitas de nós éramos analfabetas e aprendemos muito graças ao senhor Adolfo. E também tínhamos claro que queríamos abrir-nos ao bairro e termos o apoio da vizinhança, isto sobre todo antes de nos cederem a horta, porque no começo a ocupamos. A partir daqui tínhamos duas cousas claras sobre o funcionamento. A primeira é que queríamos que a maneira de cultivar fosse comunitária, isto implica que todo (espaço, cultivos, ferramentas) pertence a toda a gente e isto é o que nos diferencia de Belvis que um trabalho comunitário 100%. A segunda era que íamos trabalhar de jeito ecológico e com sementes galegas.
Como é a relaçom com outros grupos da cidade que fam trabalho no campo da autogestom alimentar?
Tivemos contatos esporádicos com um grupinho que trabalhava com permacultura, apontamo-nos na Rede Galega de Sementes e também trabalhamos com algumha cooperativa de consumo, mas é mui difícil trabalhar com outros grupos porque na horta somos muita gente e já nos custa coincidirmos entre nós, quanto mais com outros grupos. Reconhecemos que este trabalho nom o soubemos fazer, mas é umha matéria pendente porque seria mui interessante pôr trabalho em comum.
E como é o trato com a vizinhança?
Mui bom. De feito, há quem vem traguer-nos o compost, e mesmo há umha vizinha que está trabalhando na horta. O jeito de nos relacionarmos com a vizinhança é algo que sempre procuramos cuidar. O trato com as vizinhas de Sam Pedro era fundamental para assentarmo-nos e consolidar-nos como projecto no bairro.
Que importáncia tem um projeto como este numha cidade?
Muita, já que dá muitas cousas. Primeiro, é um meio visibilizar o rural, de recuperar o trato entre as geraçons, de poder aprender da gente velha, de educar umha cidade que cada vez se afasta mais da agricultura (ainda que Compostela é das que menos), e também de nos educarmos nós mesmas numha soberania alimentar. E é também um modo de luitar contra a especulaçom. De feito, um dos trabalhos que priorizamos neste verao foi a recuperaçom dum forno de lenha que está na horta e que antes era comunitário, funcionava para todo o bairro e tínhamos muitas ganas de recuperá-lo para as vizinhas; mas agora apareceu o dono e quer vendê-lo. Proibiu-nos de continuar a reconstruçom.
Quais fôrom os principais problemas para levardes adiante a horta?
Houvo problemas desde o começo: encontramo-nos com que a horta que escolhêramos era umha escombreira. De feito, davas um sachaço e tropeçavas com lixo. Aqui perdemos e ainda estamos perdendo muito tempo em limpar. Depois, e se quadra o mais grave, foi que ao analisar a água que usávamos para as regas, que é dum poço natural situado na horta, descobrimos que tinha bactérias fecais humanas. Para remediá-lo, figemos de todo, desde tentarmos localizar o foco e falar com as vizinhas até filtrar a água com plantas. Agora estamos com o senhor que quer o seu forno, e também os problemas de organizaçom próprios de um projecto comunitário. Mas cada problema é um desafio e com cada um, imos aprendendo um pouquinho mais.
E o que aprendestes até agora, entom?
É que nom deixamos de aprender. Isto é-che melhor que umha carreira: aprendemos quando se há de botar umha semente, como planificar a plantaçom com os ciclos da lua: sempre em minguante, a respeitar os ciclos das plantas, também a levar umha alimentaçom acorde com o ciclo de produçom, quando um produto é de tempada; a fazer conservas para aproveitar a sobreproduçom, técnicas de cultivo: como planificar rotaçons, associaçons de sementes, a fazer encamados…
Mas, sobretodo, aprendemos a valorizar o trabalho do campo. Sabemos que nom está bem pago. Aprendemos uma cousa tam básica como é o relacionarmo-nos com o meio natural e partilhá-lo com outras pessoas. Ademais, aqui aprendes logo, sem te esforçares e de forma empírica. O que acontece é pura lógica.
Que objetivos marcastes para este ano?
Temos vários projetos: como empregar técnicas de permacultura, preparar novas zonas e parcelar, todo para ordenar melhor a horta. Outro dos objetivos é abrirmos o forno e empregá-lo a nível de bairro nas festas e quando fagamos o Magosto.
A longo prazo, a ideia é ocuparmos outros espaços no bairro e criar umha rede de hortas na cidade.
Unha reflexión sobre “A horta comunitária do bairro de Sam Pedro: um jeito mais de luitar contra a especulaçom e de procurar a autosuficiência”