(Reproducimos con permiso artigo aparecido no nº 123 do Novas da Galiza.)
Galiza consome cinco vezes mais recursos dos que pode produzir ecologicamente
“O desenvolvimento sustentável é aquele que satisfai as necessidades da geraçom presente sem comprometer a capacidade das geraçons vindoiras para satisfazerem as suas próprias necessidades”. Esta é a definiçom de desenvolvimento sustentável recolhida em 1987 polo relatório das Naçons Unidas “O nosso futuro comum”. Mas a realidade é que hoje estamos ainda muito longe dessa ideia de sustentabilidade; de facto, imo-nos afastando cada dia. Segundo a Global Footprint Network, a humanidade já chegou a um ponto em que precisaria de mais outro meio planeta para que o seu consumo fosse sustentável.
Raul Rios / Este dado global oculta os fortes desequilíbrios territoriais que se dam entre os países do norte e do sul. Enquanto as naçons do Terceiro Mundo costumam consumir menos recursos dos que disponhem, nos países ocidentais o consumo é tal que, se estivesse generalizado mundialmente, seria preciso muito mais dum planeta e meio para ser sustentável. Por exemplo, se todo o mundo consumisse ao ritmo dos Estados Unidos, fariam falta até cinco planetas Terra. A Galiza acha-se neste último grupo: se a populaçom mundial tivesse os hábitos de consumo que tenhem as galegas, faria falta até três vezes a superfície da Terra para que fosse sustentável a longo prazo.
A pegada ecológica
O indicador mais popular empregado pola economia ecológica para quantificar esta realidade é talvez a “pegada ecológica”. A pegada ecológica é a área de território ecologicamente produtivo necessária para produzir os recursos utilizados e para assimilar os resíduos gerados por umha populaçom definida. Isto é, o número de hectares produtivos de que necessita umha sociedade para manter o seu ritmo de consumo médio indefinidamente.
Este conceito complementa-se com o de biocapacidade, a produçom biológica dum território. É a capacidade produtiva da soma de culturas, pastos, florestas, mares produtivos e também a superfície artificializada ou degradada.
O deficit ecológico é a diferença entre a pegada ecológica, aquilo que umha sociedade consome, e a biocapacidade do seu território, aquilo que poderia produzir a longo prazo sem danar o meio. Que um país tenha deficit ecológico, como acontece na Galiza, quer dizer que se estám a consumir mais recursos dos que se disponhem.
O fenómeno do deficit ecológico tem duas consequências salientáveis: por umha banda, estám-se a consumir os recursos necessários para as geraçons futuras e, por outra, estám-se a consumir recursos procedentes doutros países que tenhem superavit ecológico, nomeadamente países pobres.
A pegada galega
Nom é fácil conhecer a pegada ecológica da Galiza devido à ausência de informes relativos ao território. Os últimos dados com informaçons referidas ao nosso país partem dum estudo do Ministério de Meio Ambiente espanhol: “La huella ecológica como elemento de valoración integrada de la sostenibilidad del desarrollo”, datado em 2005, que se limita a informar da pegada ecológica global do País: 6,64 hectares por pessoa, com umha biocapacidade de 4,4 ha/cap. Assim, o deficit ecológico da Galiza situaria-se em 2,24 ha/cap: consumimos 50% mais do que o nosso território nos pode oferecer sustentavelmente.
Mas o referido estudo nom mostra nengum dado desagregado sobre a pegada galega. A última informaçom publicada que especifica os componentes da pegada ecológica galega é o estudo “Desarrollo sostenible y huella ecológica. Una aplicación a la economía gallega”, do professor da Universidade da Corunha Federico Martín Palmero, com dados de entre 2000 e 2002.
Este estudo, menos recente mas muito mais completo, estima a pegada ecológica galega em 6,26 ha/cap (ou 7,07 tendo em conta o conservaçom da biodiversidade). Mentres, a capacidade de carga do território estaria, sempre seguindo o estudo de Palmero, em 1,25 ha/cap (a mundial é de 2,15). Assim, o deficit ecológico galego, aquilo que se consome contra as necessidades das geraçons futuras e doutras naçons, representa 5,76 hectares por pessoa. Segundo este estudo, o deficit ecológico aumenta até representar cinco vezes a biocapacidade do território galego.
A pegada ecológica é composta por três matrizes: alimentaçom, uso florestal e energia. A parte que tem mais peso na pegada ecológica média de cada galego é a da alimentaçom: 3,62 ha/cap do total de 6,26 (58%). Segue-lhe a pegada energética, quantificada em 2,17 ha/cap (35% do total). Grande parte do peso desta componente explica-se pola área de absorçom de CO2 necessária polas centrais térmicas de Meirama e das Pontes. O uso florestal é o que menos peso tem: 0,39 hectares por pessoa.
Sem vontade política
A Junta anunciara em 2011 que estava interessada em realizar um estudo sobre a pegada ecológica no País, com motivo da presença em Compostela dum dos criadores do indicador, Mathis Wackernagel, que se reuniu com Agustín Hernández, conselheiro do Meio Ambiente. Passado um ano do anúncio do Governo galego, e quase dez anos depois da publicaçom do último estudo desagregado realizado, nom há nengumha notícia sobre novos relatórios científicos sobre a pegada ecológica galega.
A pegada ecológica
À semelhança doutros indicadores ambientais, a pegada ecológica mede a realidade económica em termos físicos, nom monetários. Deste modo, a economia ecológica procura quantificar realidades económicas que, por ficarem à margem do mercado, nom aparecem consignadas na contabilidade convencional. Assim, a pegada ecológica permite medir aquele espaço físico produtivo de que precisa determinada sociedade para se abastecer dos recursos que consome e para assimilar os refugos que gera, independentemente da localizaçom real desta área.
A preocupaçom com a existência de limites físicos ao consumo de recursos naturais nasce já no século XIX, mas é só na segunda metade do século XX que começa a adquirir um sentido global. O cume de Estocolmo (1972) confere um reconhecimento oficial às análises dos economistas que vinham estudando este problema. Dessa reuniom nasce o relatório “Os limites do crescimento”, sob a direçom de Dennis L. Meadows.
Novos cumes teriam lugar nos anos seguintes, mas é em finais da década de 80 e princípios da de 90 que começa a desenvolver-se toda umha série de indicadores com o objectivo de medir com umha metodologia científica o impacto real do ser humano sobre o ambiente. É neste contexto que, em 1995, William Rees e Mathis Wackernagel ideiam o indicador da pegada ecológica. Desde 2003, a Global Footprint Network é a organizaçom sem fins lucrativos que se encarrega de investigar e divulgar todo o relativo à pegada ecológica.