(Reproducimos con permiso artigo de César Caramés aparecido no nº 125 do Novas da Galiza.)
Agora
Agora, a monarquia “campechana”, o rei que salvou a democracia, a família real cristá, virou num ninho de ladrons onde o auspício do golpismo convive com os sete pecados capitais para cada vez mais cidadania. O melhor embaixador do estado transformou-se no parente cheias que envergonha a família na festa da paróquia. Nos corredores do regime, a sucessom espreita preocupada.
À transiçom exemplar esborranchou-se-lhe a maquilhagem. Umha ditadura de duas faces, serva da oligarquia e inamovível graças a um desenho ad hoc, já se perfila evidente para a maioria da populaçom. O grau de corrupçom geral, desde o governo do estado até o último concelho rural, provoca a identificaçom sem matizes do político profissional do regime com o malfeitor.
Uns corpos policiais que malham, torturam e incriminam nos de abaixo com mais desvergonha que nunca; umha justiça que seqüestra dissidentes políticos ou que castiga reinsertos enquanto garante a imunidade de banqueiros e terroristas de estado som já temas freqüentes nos faladoiros populares.
E por cima de todo, a aboiar como um abutre faminto, a miséria. “Sem trabalho e sem serviços públicos que nos amparem”, escrevem no futuro imediato os olhares de em baixo. E cresce um moumeio: para a banca, para os partidos do regime, para as empresas beneficiárias da corrupçom, para eles os milhons pagos por nós, polos expulsos das casas, polos que fugimos do país, polos que esmolamos escravitude e delinquimos para alimentar famílias… polos que nos suicidamos.
Aqui
Aqui, a ausência de decisom sobre a nossa economia diferenciada expujo-nos ao arbítrio dos interesses oligárquicos espanhóis e europeus. A administraçom e o tijolo suavizárom a castraçom económica do nosso país um tempo. Com a crise, a desfeita ficou ao ar. Esta é umha terra rica, capaz de fornecer-nos bem-estar aos que a habitamos e até solidariedade a outros que a precisem. Mas emigramos e padecemos necessidade porque somos de aqui e a decisom sobre a exploraçom da nossa riqueza sempre se toma por e para o alá acima.
A dispersom demográfica, o melhor jeito que atopamos para aproveitar os recursos do País por milénios, esse apegamento ao território como mecanismo indefectível de sobrevivência, foi atacada sem dó. A sua maior eiva, o desajuste com os modelos do estado espanhol, umha armaçom administrativa à imagem de economias e territórios radicalmente diferentes dos galegos. Hoje, um rural de terras férteis e abandonadas aguarda a apariçom das multinacionais enquanto a necessidade se espalha e mesmo dá em fame nas cidades da Galiza.
No entanto, as castas intermediárias do franquismo perduram indemnes no controlo institucional do território autonómico. Arrivistas, pilhabáns e feirantes figérom-lhes um pé na construçom do piar “esquerdo” na renovaçom bipartidista da ditadura. A compra de votos e meios de comunicaçom constituem o motor da nave. Sobre todos eles sustentam-se no narcotráfico, a depredaçom colonial dos recursos, o espólio dos bens e serviços públicos, a submissom à troika e aos fantoches de Madrid…
Assim, o ataque aos nossos sinais de identidade é-lhes primeiramente umha necessidade prática, a extirpaçom do perigo da tomada de consciência cívica. Um sistema alicerçado no feudalismo eleitoral precisa de vassalos, nom de cidadania. Por isso é imprescindível que nos envergonhem do que nos identifica ante o mundo, que sintamos a marca de inferioridade inata, que reneguemos da memória e da língua que nos fam comunidade, que nos rendamos à dialéctica indígena/homem branco… O vassalo deve interiorizar a sua inferioridade ante o senhor. A guerra actual contra a identidade galega é a guerra contra a democracia na Galiza.
Depois
Há muitos possíveis “depois” mas apenas num poderemos viver apropriadamente como cidadaos. Só haverá trabalho digno nesta terra se recuperarmos a capacidade de decisom sobre a nossa economia e a sua especificidade, se a colocarmos ao serviço do bem-estar colectivo. Temos que ser nós, habitantes da Galiza, únicos administradores e beneficiários dos recursos do seu território. Qualquer alternativa “democrática” que ceda essa capacidade a representaçons foráneas posterga-nos a interesses contrários. A soberania galega é imprescindível para que haja emprego e serviços públicos no País. Nom se trata de reivindicar essências e bandeiras, trata-se de sobrevivência.
Este “depois” nunca vai chegar destas instituiçons. Toda a estrutura vertical e institucionalista dos partidos favoráveis a umha ruptura democrática deve ser transformada. Nom há volta atrás, o chamado estado de bem-estar nom é salvável, teimar em fórmulas dirigistas focadas a ele só empece o “depois”. Umha democracia nova e aberta, participativa e plural, tem que nascer além das instituiçons oficiais. Nom vai ser umha mesa de partidos nem umha coligaçom eleitoral quem no-la traiam. Porém, é indispensável o impulso e a submissom dos partidos a essa realidade. Compre umha assembleia nacional constituinte para o povo galego e a agrupaçom nela de todas as vítimas e sujeitos: desempregados, despejos, preferentes, desassistidos, trabalhadores… Compre subordinar o trabalho institucional a essa nova legitimidade, sacrificá-la por oportunismos tacticistas ou eleitorais é um crime de lesa pátria.
O “depois” deve conviver com o agora desde já. Nom se trata só de mobilizar, criar assembleias ou rabunhar o último direito numhas instituiçons xordas. É preciso construirmos tecido popular que encha os espaços que vai deixando a administraçom, desde refeitórios comunitários até cuidados de saúde por profissionais desempregados. Necessitamos dumha via de intercámbio de mercadorias que dê saída interna às pequenas produçons sem portagens alófilas: umha moeda social galega unificada junto ao euro, canda ela, umha banca ética nacional. Compre resolvermos o imediato a partir do “depois” nascente, compre agirmos como cidadaos da sociedade que arelamos para demonstrar a sua efectivabilidade.