A era das tecnologias simples (resenha de Ramom Flores)

l-age-des-low-tech-2014-philippe-bihouixEste verão caiu nas minhas mãos um livro bem interessante: L’âge des low tech(1) de Philippe Bihouix, cujo subtítulo é bem eloquente: Rumo a umha civilizaçom tecnicamente sustentável(2). Este livro apresenta, na perspectiva dumha mudança de sistema económico inevitável, um programa de transiçom cara a umha sociedade sustentável, i.e. que tenha em conta os teimudos limites do planeta, desde umha perspectiva à vez realista e humanista.

Ciente dos múltiplos problemas que enfrentamos, a proposta é contudo optimista, pois considera possível atingir umha sociedade que forneça aos seus cidadãos umha vida confortável, com um consumo de recurso muito inferior ao actual. Sendo o autor engenheiro, o livro foca-se nos aspectos técnicos, tanto do actual e insustentável sistema económico, como das soluções para artelhar umha sociedade sustentável. Tratando com especial cuidado a problemática da escasseza de recursos nom renováveis, cousa lógica conhecendo que anteriormente co-dirigiu um livro sobre a rarefacçom dos metais: Quel futur pour les métaux ?

Se bem nom entra em muitos detalhes sobre aspectos políticos, as suas propostas som incompatíveis com o BAU, e decididamente afastadas do tecnóptimismo ecológista tam em voga na actualidade. Assim considera que as tecnologias complexas –high tecnologies– nom som em geral boas soluções para os nosso problemas, fazendo finca-pé na poupança de recursos –atendendo às necessidades reais das pessoas e nom às necessidades de vendas das empresas–, e no aproveitamento do que já há, sem tratar de construir todo novo e melhor, por exemplo um parque habitacional moderníssimo, muito eficiente, mas que suporia empregar muitos recursos e energia para ser construído.

Por outro lado Bihouix desconsidera as propostas sobrevivencialistas, que acha fantasistas, apostando por soluções sociais, e de facto o seu plano está pensado para aplicar-se na França a nível institucional. Do meu ponto do vista isto supom umha confiança no estado excessiva, e que coma mim nom semelham compartir os autores da Guia para o descenso enerxético. Se quadra porque a experiência com o estado, enquanto organizador e solucionador, dos franceses e dos galegos é claramente diferente.

Para o/a leitor/a poder fazer-se umha melhor ideia do conteúdo do livro, reproduzo(3) a seguir um parágrafo e o índice do mesmo.

[As tecnologia simples] precisarám de saberes e pesquisa, mas com orientações diferentes das actuais. Consideremos por exemplo a agricultura biológica, a agro-ecologia ou a permacultura, três abordagens vizinhas que podem entrar facilmente dentro dos critérios de tecnologias simples: poucos ou nenguns insumos –portanto fazendo a mesma cousa, ou mesmo melhor em termos de qualidades nutricionais e de rendimentos, com menos–, sem poluçom, respeito ou restauraçom dos patrimónios naturais como os solos, controlo local… Para serem eficazes estas técnicas precisam umhas bases teóricas sólidas em agronomia e microbiologia, um conhecimento fino do ciclo dos ciclos ecológicos, das interacções entre a microfauna, a macrofauna e a flora. Precisam, alem disso, adaptações locais dos métodos aos diferentes tipos de solos, orografias, climas e variedades de plantas cultivadas.

Índice

  • Prólogo: A valsa tola dos camarões(4)
  • Acto I: Grandeza e decadência dos “engenheiros taumaturgos”
    • Como a técnica respondeu (até o momento) à penúria de recursos
    • Porque as high tech nom responderám desta vez
    • Desmontando as técnicas à última moda: bioeconomia, nanotecnologia, desmaterializaçom da economia
    • O triplo impasse da sociedade extractivista, produtivista e consumista
  • Acto II: Princípios das tecnologias simples
    • Pôr em causa as necesidades
    • Conceber e produzir um produto realmente durável
    • Orientar o saber em direcçom à economia de recursos
    • Procurar o equilíbrio entre desempenho e convivialidade
    • Relocalizar sem perder os (bons) efeitos de escala
    • “Desmaquinizar” (reumanizar) os serviços
    • Saber permanecer modesto (reconhecer a ignorância)
  • Acto III: A vida quotidiana no tempo das tecnologias simples
    • Agricultura e agroalimentaçom
    • Transportes e automóvel
    • Edifícios e urbanismo
    • Produtos de consumo, desportos e lazeres, turismo
    • Novas tecnologias, informática e telecomunicações
    • Banca e finanças
    • Ballet do terceiro acto: amar, viver e morrer com tecnologias simples
    • Quando o lixo desapareça
    • E a energia em todo isto?
  • Acto IV: É possível a transiçom?
    • O status quo impossível
    • Entre a indecisom, o fatalismo e o sobrevivencialismo
    • A questom maior do emprego
    • A questom da escala: as lições do abolicionismo inglês
    • A questom da mutaçom cultural e moral
    • Como fazer a transiçom desejável: vivam as tecnologias simples
    • Acabando com umha nota positiva
  • Epílogo: Um sonho como nunca se viu(5)

  • (1) A era das tecnologias simples.
  • (2) Vers une civilisation tecniquement soutenable.
  • (3) A traduçom é minha, portanto nem profissional nem excessivamente fiável.
  • (4) Fai referência aos camarões pescados em Dinamarca, que a seguir som enviados a descascar a Marrocos para logo voltar ao norte da Europa.
  • (5) O original, Rêve s’il en fut jamais, fai referência a um livro de 1770 de Louis-Sebastien Mercier, dentro género das utopias, intitulado L’An 2440, rêve s’il en fut jamais.

Unha reflexión sobre “A era das tecnologias simples (resenha de Ramom Flores)

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