O cenário Afterres2050


Inspirados no cenário Négawatt [1] os engenheiros de Solagro elaborárom um cenário para agricultura do futuro: Afterres2050. Em 2011 apresentárom umha primeira versom do seu cenário, intitulado Afterres: quelle utilisation des terres en 2050?. Umha segunda versom saiu em 2013, e outra nova em 2016
.

Entrevista a Sylvain Doublet, um dos desenhistas do cenário, por Marie Astier para Reporterre e publicada o 16 de outubro de 2015. Traduçom para o galego de José Ramom Flores das Seixas.

 

A agricultura do futuro segundo Afterres: biológica, prospera, local, e totalmente realista!

Reporterre – O seu cenário está baseado na demanda, nas necessidades alimentares que teremos em 2050. Qual é a originalidade do seu procedimento?

Foto de Sylvain Doublet

Sylvain Doublet

Sylvain Doublet – Nós nom sabíamos que era original! Pensávamos que o ministério de Agricultura e os sindicatos teriam os seus próprios cenários com os quais comparar. De facto chamou-nos a atençom que ninguém tinha um cenário agrícola em funçom da demanda alimentar da França e dos seus vizinhos. A economia actual nom razoa muito em funçom das necessidades, senom que parte fundamentalmente da oferta.

Entom, que haverá no nosso prato em 2050?

Estudou-se a dieta actual e procurou-se o que poderia mudar. Diminuírom-se o consumo excessivo de açúcar e de proteínas, reduziu-se o desperdício de alimentos e invertêrom-se também as proporções entre proteínas animais e vegetais.

Hoje em dia, o alimento que mais pesa, em gramas por dia, é o leite e os seus derivados. Tendo em conta a opiniom dos dietistas, dividiu-se o seu consumo por dous.

Em 2050, na nossa dieta haverá mais frutas e legumes, os cereais tornaram-se a fonte principal de proteínas, comerá-se a metade de carne – em vez do bife ao meio-dia e à noite, só comeremos um bifé ao meio-dia –, as quantidades de peixe dividem-se também por dous devido à crise de recursos haliêuticos, mas quintuplica-se o consumo de frutas de casca rija: nozes, amêndoas, castanhas, pinhões… Isto último, por exemplo, nom o prevíamos inicialmente, mas todos os dietistas assinalárom que era necessário para aumentar a ingestom de omega 3.

NT. Se bem o original nom inclui as unidades, todo fai pensar que sejam kcal/dia.

Como será a granja de 2050?

Na actualidade temos umha situaçom de hiper-especializaçom dos territórios e das explorações. No nosso cenário favorecemos a diversificaçom, para o tornar mais robusto do ponto de vista agronómico e climático. A agricultura deve produzir principalmente para a alimentaçom humana (Hoje em dia 80% das terras usam-se para nutrir o gado).

Vai-se diversificar o que produzem as grandes explorações agrícolas, introduzindo leguminosas como as ervilhas, as lentilhas … nas rotações. Outro ponto importante é o desenvolvimento da agro-silvicultura, haverá árvores nos campos.

Polo que corresponde a pecuária, diminuem o número de bovinos até atingir a metade de produçom de leite. Mas cuidado, isto nom quer dizer que se divide por dous o número de gadeiros!. Afterres prevê a diminuiçom do número de vacas por exploraçom, e que voltem a pastar erva. As explorações produziram menos leite, mas compensaram produzindo também cereais, energia… Sem dúvida haverá menos produçom por vaca, mas nom necessariamente por hectare.

Quanto às produções avícola e porcina, suprime-se todo o que é intensivo. Terá-se menos, e o que reste terá em conta o respeito do bem-estar animal.

Em resumo, a exploraçom do futuro está mais enraizada no seu território: cobre as suas necessidades alimentares e energéticas respeitando o ambiente.

A pecuária está hoje em crise, no sector da agricultura regista umha alta taxa de suicídio… Como será a qualidade de vida dos agricultores?

Nom temos dúvida sobre isso, vai melhorar! Digo isto porque, quando um visita umha exploraçom de agricultura bio ou integrada, encontra sempre pessoas apaixonadas. Vam vinte anos por diante das regulamentações e tenhem gosto pola experimentaçom. Enquanto vou ver um produtor de cereais da Beauce, tem o seu planning escrito para os próximos 30 anos e vê bem que nunca poderá respeitar as normas que vam saindo sobre os pesticidas, o azoto, a agua… É alguém que vai lutar permanentemente por existir.

Para respeitar o ambiente, que modelos agrícolas escolhe?

O outro facto notável do cenário é que só consideramos técnicas que já existem na actualidade. Olhamos todas as cartas que tínhamos nas maos: o modelo convencional e o seu derivado a agricultura razonável[2], a agricultura de conservaçom[3], a produçom integrada (uso muito reduzido de adubos químicos e pesticidas) e a agricultura biológica. Hoje em dia cada umha destas duas últimas apenas representam o 3% do total. Nós empurramos a 45% cada umha delas em 2050, deixando a convencional num 10%.

Na turnê de apresentaçom da primeira versom do seu cenário, como reagiu o público?

Ninguém pom em causa os nossos cálculos nem nos di que é umha trapalhada. Temos chegado a todo tipo de público, já que as fundações científicas som sólidas, e nom fomos extremistas. Por exemplo nom preconizamos 100% bio ou suprimido a carne. Umha vez que as pessoas compreendem que nom privilegiamos um modelo em particular aceitam entrar no debate.

Afterres foi bem recebido também polas Amaps[4], o ministério de Agricultura ou a Assembleia geral dos produtores de cereais. Temos um cenário sólido, que permite debater, e que pode ter um impacto nas políticas públicas. Poderia inspirar leis, como o Négawatt conseguiu com a lei de transiçom energética.

Como reagírom, por exemplo, os agricultores da Beauce?

Eles nom gostam quando se fala dos impactos ambientais do sistema convencional, tenhem outra imagem do seu oficio e do seu território. Alguns respondem: «O meu sistema é muito produtivo, ganho-me a vida com ele, nom vejo porque deveria mudar.» Porem outros dim-nos que estariam interessados em mudar para formas de agricultura diferentes, mas que nom sabem como o fazer.

Há sempre algum produtor cerealífero que afirma que ele nom polui. No início, temos que apresentar os argumentos contrários nós mesmos. Mas o que é interessante é que hoje em dia, na sala, há sempre alguém que intervém é di: «Olho, é necessário deixar de negar a realidade para podermos avançar.»

Apresentamos também Afterres na Bretanha, onde a maioria respondêrom: «Se for possível ganhar-se a vida com a metade de vacas, e além disso manter boas relações com os vizinhos, por mim tudo bem!»

De facto, une vez que conseguimos ultrapassar os pontos de desacordo, resulta fácil vender o nosso cenário aos agricultores, pois Afterres valoriza mais o seu o seu oficio do que está na actualidade.

Mas, é este um cenário realizável?

Com certeza! Nom negamos que há muitos obstáculos: os regulamentos, a propriedade das terras, os organismos de investigaçom e de formaçom actualmente virados para as práticas convencionais…

Depois, observamos cada vez mais factos Afterres-compatíveis. Nom pensávamos que os modos de consumo locais e alternativos atingiriam o 10% dos consumidores. Temos exemplos que provam que as agriculturas alternativas estám a funcionar por todas partes. Multiplicam-se os razoamentos alimentares territoriais, a escala local e regional. Quando consideramos que os 10 000 milhões de euros anuais da PAC (política agrícola comum) da UE vam ser geridos a nível regional, é umha alavanca extraordinária.

Desde já, se umha vila de tamanho médio desejar que o 50% da alimentaçom nas cantinas escolares seja bio pode fazê-lo. Se quer que o fornecimento energético seja local, pode fazê-lo. Todo o arsenal jurídico está pronto.

NOTAS

[1] O cenário Negawatt propom umha transiçom energética e umha divisom por quatro das emissões de gas a efeito estufa até 2050.

[2] Em francês chamam agriculture raissonée a aquela que trata de optimizar o resultado económico controlando as quantidades de insumos empregados.

[3] Conjunto de métodos de cultivo que procuram manter e melhorar o potencial agronómico dos solos, conservando a sua estrutura e biodiversidade.

[4] AMAP = Associaçom polo Mantimento dumha Agricultura Paisana, em Espanha conhecem-se como ASCs (Agricultura sostenida por la comunidad) e em Portugal como RECIPROCO(RElações de CIdadania entre PROdutores e COnsumidores). Som associações locais de consumidores e agricultor(es), os consumidores comprometem a comprar periodicamente umhas determinadas quantidades de produtos, mesmo a pagá-las por adiantado, entanto os agricultores comprometem-se cultivar usando técnicas respeitosas com o ambiente, e a saude dos consumidores.

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